Uma liberdade despreocupada

Por Jonatt de Paula

      Todo esporte de aventura tem uma forte relação com a liberdade do homem e cada modalidade neste amplo mundo esportivo tem uma visão determinada desta liberdade, não como algo supremo ou como uma essência definida que ao mesmo tempo é inexplicável por aquele que a pratica: são apenas modalidades que estão em perfeita harmonia entre a busca de seus praticantes em conjunto com o meio em que eles se encontram. É o desejo do homem que dá a existência destas modalidades, quando ele busca para si algo somente seu como uma auto-suficiência perante o seu próprio ideal e não mais como algo pré-estabelecido que fosse determinado por um e seguido por outros, os quais aparentam manter vivo cada modalidade dentro de certas normas. A liberdade neste sentido é desprendimento, uma auto- suficiência do homem perante seu ideal e com isto não importa o nível do objetivo com relação ao lugar, o tempo e o risco que tenha como ideal para atingir sua liberdade, o importante encontra-se somente em sua auto-suficiência. Respeitar os objetivos daqueles que deram o inicio nesta forma de atitude é importante para a evolução do esporte de aventura e para o próprio homem que o pratica, mas também é importante perceber que o desejo que os moveram está a mover aquele que hoje tem esta mesma vontade e que muitas vezes não se dá conta por achar que a liberdade é somente um termo que expressa atitude, mas que na prática está carregado de limitações que impossibilita o homem em sua auto-suficiência.

      A escalada como um esporte também permanece vivo através do objetivo empregado nesta concepção de liberdade, uma forma de desprendimento que está em harmonia com o objetivo daquele que realmente é movido por seu próprio desejo: a sua liberdade. E hoje a escalada como qualquer outro esporte de aventura está alcançando resultados surpreendentes, aliando-se conhecimento e tecnologia o esportista tem a possibilidade de ultrapassar limitações e atingir cada vez mais os objetivos que antes não eram nem imaginados. Um bom exemplo é a graduação na escalada esportiva em que alguns anos atrás o grau nove (Brasil) era meta de poucos escaladores e que hoje está se tornando a base para alcançar objetivos ainda maiores. A limitação do escalador com relação à força e técnica está sendo superada a cada dia através das próprias possibilidades que por ele são buscadas: aberturas de rotas cada vez mais exigentes e com um aumento significativo destas rotas; este mesmo avanço está de acordo com o objetivo dado a exigência de uma rota na escalada esportiva, a qual proporciona para o escalador o que acredito ser uma das principais características que uma linha pode oferecer: a de hipnotizá-lo através de seus movimentos obrigatórios e sem intervalos, para que este não pare e que não consiga quase respirar, tentando ao máximo não pensar em nada mais, apenas no próximo movimento.

      Contudo, há na escalada outro fator importante por considerar a questão da liberdade de aproveitar ao máximo a oportunidade que uma parede pode oferecer e é neste momento que o escalador impõe seu desejo, o qual mantém vivo o esporte como forma de desprendimento: uma liberdade despreocupada que hoje tem com a escalada em móvel a possibilidade de todo escalador ser auto-suficiente, explorando ao máximo não só força e técnica como também a sua própria capacidade psicológica. É através da escalada em móvel por curtas ou longas rotas que são testadas harmoniosamente todas as capacidades de um escalador, testes que certas vezes valem apena passar, porém quase nunca repetir. Estou a falar tanto de liberdade que é impossível deixar de lado uma modalidade que gera pequenas possibilidades de tornar todo e qualquer escalador preparado para o impossível, o boulder cresce como modalidade, juntamente com criatividade, força, técnica e em certas situações: psicologicamente. A possibilidade do impossível não soa muito bem logicamente, porém na pratica este estilo de escalada está demonstrando que a impossibilidade só existe quando você deixa de tentar.

      É difícil exprimir em poucas palavras este esporte que facilmente envolve seus praticantes de uma forma tão surpreendente. Em todos os níveis, quase todos são tomados não somente como um esporte e sim também como um estilo de vida. Cada um tem o seu ideal e se identifica através de sua própria modalidade; e também para aqueles que se identificam através de todas as modalidades, buscam em cada uma o sentido da escalada como um todo. Ter a satisfação de se identificar com apenas uma delas, através da sua própria vontade, não é suficiente para entender todas e ao buscar escalar todos os estilos, percebe-se que a capacidade de evoluir são inúmeras para o escalador. E isto só é possível por seu próprio desprendimento com as regras e limitações e pela forma de perceber que independente da modalidade praticada dentro da escalada, o que importa é o desejo daquele que se sente auto-suficiente perante seu próprio ideal e assim pode escalar livre de toda e qualquer preocupação.

One Response to Uma liberdade despreocupada

  1. elcio muliki disse:

    Na minha falta de palavras academicas, apenas complemento o que o jonatt quer dizer.
    Quem é picado pelo mosquito da montanha nunca mais será o mesmo.
    Abraço Jonatt!!

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: