621 metros de escalada em rocha e mato!

Por Gustavo Castanharo (Tavinho)

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A escalada da via “Mar de Caratuvas”: tentativas, logística, insucessos e sucessos, e uma queda inacreditável!

Antes de mais nada trata-se de um texto longo! Portanto, se não tem paciência, ou interesse, ou tempo, não prossiga. Mas se você curte escaladas de aventura, histórias, estórias, lendas, roubadas, persistência, vá em frente! É um texto e tanto!

A escalada da Via Mar de Caratuvas é uma aventura única. Raramente você encontrará uma escalada similar (talvez somente na mesma montanha). Cravada em meio a um dos poucos pedaços intocados que restaram da Mata Atlântica no Brasil seu acesso é complexo e longínquo. Muitos perguntam sobre o grau dela, que acham que é o que importa para planejar escalá-la, e quando se fala em 5º grau (se bem que eu acho que tem 2 lances que são 6º), as pessoas falam: “Ahh então é de boa”. Lá o grau não importa. É uma escalada que somente a realizando pode-se tirar suas próprias conclusões. Ela não é uma escalada somente com trepa mato como muitos dizem, mesmo quem não a escalou acaba generalizando assim por ouvir falar. Talvez sua metade seja, mas ela tem seus trechos de escalada em rocha e que são muito bonitos, como o antepenúltimo e o penúltimo esticão, que são únicos, o esticão após o Platô do Biriba (no veio de cristal), os 2º e 3º esticões iniciais da via, entre outros. Tem escalada em rocha sim e tem trepa mato também (ou melhor, trepa caratuva ou trepa bambu). Rodeada de lendismos, de insucessos, de sonho para muitos, de roubadas, mas também de sucessos!

A via está localizada no Pico Ibitirati, mais precisamente na Serra do Ibitiraquire, porção norte da Serra do Mar Paranaense. Ele possui 1.856 metros sobre o nível do mar (m.s.n.m). e faz parte do conjunto do Pico Paraná, montanha esta a maior do sul do Brasil, com 1.877 m.s.n.m. Este conjunto possui 3 montanhas: o Pico Paraná, o União e o Ibitirati.

Conjunto Pico Paraná: Ibitirati, União e PP.

O acesso normal a estas montanhas é feito pelo município de Campina Grande do Sul (via BR-116 sentido SP), há mais ou menos 1 hora de carro desde Curitiba, e passando por uma área hoje desapropriada pelo IAP/PR, onde tem um posto de controle deste órgão, por se tratar de um acesso ao Parque Estadual do Pico Paraná. No entanto, para o acesso à via de escalada em questão, este é feito pelo litoral do estado, pelo município de Antonina, mais precisamente pelo vilarejo de Cachoeira de Cima / Bairro Alto, há mais ou menos 1h40 a 2 horas de carro desde Curitiba.

Ibitirati visto do cume do Pico Paraná

Parede do Ibitirati, vista próximo ao Disco Porto. Investida de 27 de junho de 2007.

Esta via foi conquistada em uma época muita distinta da atual, pois hoje temos boas e leves roupas de montanha, tecnologias de comunicação como sinal de celular que pega na via, e até sinal de internet em alguns pontos, equipamentos mais leves, acesso livre e demarcado para as trilhas, e claro, a tal da furadeira a bateria. Em 1987, quando de sua conquista, todas as proteções foram fixadas usando um batedor manual (mandril) e uma broca de videa, e dá-lhe marretada por 30 a 40 minutos para se fazer um único furo e colocar um grampo. Hoje, com uma furadeira, um furo é feito em 20 segundos. Mérito e raça dos conquistadores da época. Com isso entende-se porque as escaladas mais antigas tinham poucas proteções. A via foi conquistada por escaladores do Clube Paranaense de Montanhismo (CPM) à época.  Histórias interessantes sobre a conquista desta escalada são desconhecidas pela grande maioria, como a do escalador Ivan Ribeiro, um dos conquistadores da via, que em meados da década de 80 quando estudava no antigo CEFET fez uma visita como estudante daquela escola técnica à Usina Hidrelétrica Parigot de Souza, aos pés destas imponentes montanhas, próximo ao supracitado vilarejo, e quando se deparou com a grandiosidade delas, paredes de rocha enormes, o que não era comum em nossa região, o interesse em escalar aquelas paredes se tornou um objetivo. Foram diversas tentativas frustradas em encontrar caminhos que levassem mais perto de sua base, tanto por desconhecimento daquela região, que era ínfimo, até por impedimentos de passagem pelas propriedades, até que um dia conseguiram acessar o trecho atual e chegar até o Disco Porto (estrutura de concreto localizada no meio do vale do Rio Cotia usada na construção dos túneis que transpassam a Serra do Ibitiraquire, construídos na década de 60, e que ligam a Represa do Capivari (localizada no 1º planalto) à Usina Parigot de Souza (já na planície litorânea)), e a partir deste momento vislumbraram a possibilidade de uma conquista naquela parede até então virgem, o que se concretizou somente em agosto de 1987.

Neste ano de 2019, mais precisamente no dia 15 de junho, a via foi recuperada/regrampeada. Até então a maioria das paradas/reuniões era com um único grampo, e muitos esticões de 40, 45, 50 metros não tinham nenhuma proteção fixa intermediária. Com o referido trabalho todas as paradas foram duplicadas usando 2 chapeletas Duplas da Bonier Equipamentos, a maioria dos grampos antigos foi substituída por chapeletas Pingo da Bonier e em muitos esticões foram colocadas chapeletas Pingo intermediárias. Este trabalho foi realizado pelo próprio CPM, 32 anos após sua conquista, e com apoio de alguns outros escaladores experientes, inclusive alguns que participaram da conquista. O trabalho foi coordenado pelo Julinho (Julio Cesar Nogueira da Luz), um dos conquistadores à época.

Sem um croqui muito bem detalhado e com a grampeação original, escalá-la e ter sucesso na primeira vez era algo difícil, não impossível. Muitas histórias de tentativas e insucessos. Até então a sua escalada era muito dificultada pela desorientação ao longo da linha da via, pois como alguns esticões não possuíam proteções fixas intermediárias, era difícil conseguir encontrar uma linha óbvia até a próxima parada, 40, 50, 55 metros acima, com trechos de mato intermediários e as vezes a direção não em linha reta, as vezes em diagonal, zig zag, etc. Com a regrampeação da via realizada neste ano o sucesso da escalada ficou mais provável. E com um croqui bem detalhado será ainda maior.

Eu tive diversas experiências nesta via. Ao todo foram 7 vezes que entrei nela, a maioria com insucesso, e poucas com sucesso! Falta de sorte? Inexperiência? Erros de logística? Falta de persistência? Despreparo físico? Talvez um pouco de cada.

Tudo começou em 1996. Eu era um piá, com 16 anos de idade, e como dizia nosso eterno amigo e montanhista Dubois (Edson Struminski) “in memorian”, eu deveria estar jogando bolinha de gude em casa e não pendurado nas escaladas por aí. Mas felizmente eu já estava nas montanhas, desde os 9 anos de idade, graças ao meu pai, José Altair Castanharo, que em 1989 começou a nos levar para a serra, junto com meu irmão, Giancarlo Castanharo “Cover”, e que poucos anos depois nos soltou para nos aventurarmos sozinhos pelas montanhas afora. Eu com 12 anos e meu irmão com 14, lá pelos anos 1992/93, já íamos sozinhos para as montanhas. Era simples: era só pegar o busão Curitiba-Quatro Barras e rapidinho estávamos escalando no nosso berço, o morro do Anhangava. Ou pegar o busão Princesa dos Campos via “Paiol de Baixo”, descer no posto Tio Doca, e caminhar somente 1 horinha pela estrada até as fazendas de acesso às montanhas do circuito Pico Paraná, e escolher qual montanha iríamos subir, e caminhar mais algumas horas até alcançar um de seus cumes, em uma época na qual montanhas como Ferraria, Ferreiro, Taipabuçu, Ciririca, Cotia, dentre outras, eram quase nunca frequentadas. Algumas delas nesses anos tinham uma ou duas ascensões por ano. Outras montanhas não tinham ascensões há anos, décadas. O próprio Pico Paraná tinha poucos grupos por final de semana. Ou também, era só pegar um busão para Morretes, e de lá achar alguma carona até o vilarejo Porto de Cima e subir pela trilha da mamona ou pela estrada das prainhas até a estação Marumbi, levando umas 2hs de caminhada, ou às vezes pegar uma rabeira de trem até o Marumbi, e de lá escolher a montanha ou via que iríamos escalar. Hoje já é diferente, quase todo mundo tem carro, alguns tem 4×4 que levam até mais próximo desses locais, temos trilhas marcadas no próprio aparelho celular (não precisamos mais de uma carta topográfica e bússola para orientação, e nem de um facão para abrir os rastros das trilhas, pois estas se tornaram “estradas”), temos “tudo na mão”. Infelicidade para alguns e felicidade para muitos?

Voltando ao ano de 1996, a Mar de Caratuvas já era uma escalada cobiçada por nós, e nas férias escolares de julho daquele ano, não lembro o porquê meu irmão não podia ir, mas eu e nosso amigo Silmar Schweger resolvemos tentar escalá-la pela primeira vez. Não tínhamos  muitas informações e na época possuíamos somente um croqui desenhado pelo Capachão (José Luis Verbiski). Saímos de ônibus de Curitiba até Antonina, em uma sexta-feira à tarde. Dormimos em um hotelzinho barato naquela cidade. Na manhã seguinte pegamos o busão, que era um verdadeiro “caco véio”, que fazia o trecho Antonina-Bairro Alto às 7 da manhã, chegando a Bairro Alto (ponto inicial da caminhada) passadas 9hs da manhã. Realmente o ônibus era um “caco véio”, caindo os pedaços. Porta que não fechava, degraus podres! Caminhamos e com nossos conhecimentos anteriores da região, pois já conhecíamos até o Disco Porto, por descidas anteriores pela trilha da Conceição (Picada do Cristóvão) e também com o citado croqui, avançamos facilmente até a base da via. Escalamos os 4 primeiros esticões da via que levam até um grande Platô, localizado no primeiro terço da via, aonde a ideia era bivacar. Chegamos já ao final do dia neste Platô, chamado de Platô Jean Claude. Bivacamos neste local e na manhã seguinte, domingo, com toda a carga de acampamento e demais apetrechos, tentamos reiniciar a escalada após esse Platô. Com dificuldade em alguns trechos mais verticais, considerando o peso das nossas mochilas, alguns trepa mato frágeis e complicados, e como a linha da via não estava óbvia, acabamos desistindo um esticão acima do referido Platô, forçando-nos a rapelar o que havíamos escalado e voltar para Bairro Alto, onde pegamos novamente aquele “caco véio” para retornar a Antonina, já no final do dia, e depois pegamos outro ônibus para Curitiba, chegando tarde da noite em nossas casas.

Mais de 10 anos passaram e retornei somente em junho de 2007, exatamente no dia 02, desta vez com meu irmão, Giancarlo “Cover”. Não tínhamos uma certeza da logística certa de horários, material e comida. Acampar ou bivacar estava fora de cogitação. Queríamos algo mais rápido. Nosso amigo Capachão que já havia escalado a via algumas vezes costumava fazer em ataque direto. Mas desta vez tínhamos um carro, diferente do ano de 1996. Decidimos então sair de casa (Curitiba) às 4 da manhã. Com isso, chegamos a fazenda em Bairro Alto, inicio da trilha, já com o dia claro. Quando chegamos ao Disco Porto, a partir daquele ponto a trilha de acesso à base da via não existia mais. Somente alguns rastros. Talvez não era escalada há alguns anos, talvez 2 ou 3, acho eu. Perdemos muito tempo abrindo novamente a trilha até a base da parede. Antes de chegar ao início da via há um sistema de canaletas bem verticais, com mato e árvores dentro (na época não existiam cordas fixas para subí-las, as quais foram instaladas em 2018 quando do inicio do projeto de regrampeação supracitado). Como fazia mais de 10 anos que eu tinha ido lá, não lembrava muito daquele trecho, e também perdemos algum tempo para achar o acesso correto para subir aquelas canaletas e chegar até o 1º grampo da via. São mais ou menos uns 200 metros de desnível desde o início destas canaletas até o início da via. Iniciamos a escalada já tarde do dia, chegando nesta investida/tentativa somente até a 4ª parada (P4), ou seja, a parada imediatamente anterior ao Platô Jean Claude, sem fazer o trecho de caminhada desde essa última parada até ele. Rapelamos e voltamos tarde da noite para casa.

No mesmo mês, no dia 27, retornamos para tentar novamente a via, mas mudamos um pouco a estratégia. Saímos de casa às 2 da manhã. Como na investida anterior havíamos aberto a trilha até a base da parede, não perdemos muito tempo na subida. Mesmo assim começamos a escalar tarde. Desta vez escalamos até o terceiro esticão acima do Platô Jean Claude, ou seja, fizemos 7 esticões da via. Estávamos um pouco cansados e perdemos muito tempo tentando achar a linha da via no ponto em que se deve fazer a cruzada do Lagartão (6º esticão), que é um trecho que tem que escalar um grande trecho de mato vertical, e deste cruzar um diedro para a direita saindo em uma grande saliência da rocha, esta chamada de “Lagartão”, a qual deve ter uns 40 metros de largura por uns 150 de altura, que possui algumas manchas brancas na pedra, fácil de identificá-la, e a partir dessa cruzada, sobe-se até a parte superior dela por mais um esticão. Chegamos a esta região, a P7, que se localiza ao lado de um antigo Platô, denominado pelo Capachão na década de 90 de Platô do Sono (citado no croqui dele), local hoje que está tomado de caratuvas, mas ainda pode ser um refúgio em caso de emergência. Deste ponto rapelamos, considerando o cansaço e o avançado do dia. Mais uma vez tivemos insucesso na empreitada. Não teríamos tempo de tentar terminar a via antes de escurecer. Aliás, ainda estávamos na metade dela!

Tanto eu quanto meu irmão estávamos “pilhados” para conseguir escalar a via, afinal eu já tinha ido 3 vezes e meu irmão 2 para tentar escalá-la. No ano seguinte, no próximo inverno, mais precisamente dia 05 de julho, retornamos novamente, antecipando o horário de saída. Desta vez saímos de Curitiba a 1 da manhã. Iniciamos a caminhada na fazenda de Bairro Alto por volta das 3hs da manhã. Iniciamos a escalada com o sol já um pouco alto. Já conhecíamos um bom tanto da via. Chegamos ao ponto mais alto que havíamos chego nas investidas anteriores. Na P7, em cima do Lagartão. A partir desse ponto, e também os 2 esticões anteriores não eram muito óbvios, exceto se tivesse um bom croqui poderia ajudar na direção da linha. Escalamos o 8º esticão, por uma linha que chamamos de “canaleta de bambu”, um esticão de uns 45m sem proteção. Somente um Camalot foi possível colocar, e algumas costuras em tufos de bambus, somente para “melhorar” o psicológico, pois não aguentariam nenhuma queda. Cheguei ao Platô do Biriba, 8ª parada (no croqui original do CPM está como P7, pois a P4 seria onde está anotado “R”, portanto, esse croqui tem uma falha, reduzindo em 1 parada a sequencia de toda via, já que a parada “R” deveria ser considerada a P4, e a P4 considerada P5, e assim por diante). No próximo esticão o croqui informava que havia um pitón. Iniciei a escalada desse esticão e logo acima tinha um platozinho, já com 1 grampo, e na sequencia um veio de cristal muito interessante na rocha, por onde se subia por ele, até chegar no tal pitón, o qual estava cravado em uma agarra meio lateral, mas que não sei se aguentaria uma queda daquele tamanho, considerando o esticão desde o último grampo. O pior estava por vir. Não era um lance difícil, mas como quase ninguém escalava essa via, ainda tinha muito cristal esfarelento na pedra, onde tinha que fazer uma passada lateral para se chegar num platô de mato ao lado, justamente nesse único pitón, já com uns 4 a 5 metros de corda esticados após ele. A passada foi feita com um pouco de tensão e chegando nesse platô já tinha um grampo (ufa!). Deste grampo subi reto e não achei a tal parada. Fiz uma reunião em 2 arvorezinhas boas. Meu irmão chegou e continuou os próximos 2 esticões que sobem por canaletas de caratuvas. Chegamos na região que seria a P10, com um único grampo. O croqui original da via é um pouco falho no sentido de “direção” da linha da via. É sempre desenhado mais ou menos em linha reta (para cima), mas na prática a coisa não funciona assim. Deste ponto não conseguimos identificar a linha correta, tentamos de várias formas por onde era mais óbvio, sempre pela região de mais mato e mistos de rocha. Já era mais de 4hs da tarde, cansados, exaustos, principalmente pelo grande atrito de corda nos esticões anteriores, o que mais nos cansava. São muitos esticões diagonais, com muito mato enroscando na corda. Não achamos uma continuação óbvia, muito menos a parada, então decidimos por rapelar. Estávamos a somente 4 ou 5 esticões do final, em nossa estimativa. Mas pelo nosso ritmo pegaríamos escuro antes de finalizar a escalada, o que poderia ser um complicador. Não quisemos arriscar. O rapel foi demorado pelo enrosco da corda nos matos e rapéis em diagonais. Demoramos quase 5 horas de rapel. Terminamos o Rapel próximo das 22hs. Descemos a trilha e chegamos bem tarde na fazenda. Já era quase 1 da manhã do dia seguinte. Pegamos o carro e na estrada já estávamos muito sonolentos… meu irmão não conseguia mais dirigir, quase batemos o carro com um cochilo. Eu peguei a boleia e consegui tocar até São João da Graciosa, aonde chegamos perto das 2 da manha, mas eu também não aguentava mais dirigir. Encostamos o carro na frente das casinhas de pastel, tudo deserto, e “capotamos” dentro do carro mesmo, acordando somente com o clarear da manhã, horas depois, quando então continuamos até Curitiba. Era mais um insucesso.

Eu tinha que escalar essa via! Eu já tinha realizado 4 tentativas e nada. Tudo bem que erros de logística, não estar bem preparado fisicamente, não ter um croqui bem orientativo e outros fatores contribuíram para os insucessos. Mas eu tinha que conseguir.

Em uma agradável quinta-feira à noite, no mês de junho de 2010, treinando no Ginásio de Escalada Campo Base, escalando com o Rodox naquela noite, com o qual já tinha escalado juntos em rocha algumas vezes, falei para ele assim: “Rodox, quer ir para uma aventura esse fim de semana? Saindo amanhã a noite?” Ele responde: “Bóra!”. Mais ou menos assim combinamos. Meu irmão já não estava escalando frequentemente nesse ano, então não quis participar de uma nova tentativa.

Considerando os insucessos anteriores, pegar final do dia no meio da via, não tendo tempo suficiente durante o dia para a escalada, resolvi marcar a saída para as 23:30hs. Passei na casa dele no horário combinado, numa sexta-feira, dia seguinte àquele treino, e como de praxe, sem dormir antes. A última noite dormida era a anterior. Era tipo virar a noite na balada e ir trabalhar direto no dia seguinte, mas era um trabalho bem diferente. Era uma missão extremamente cansativa. Naquele ano ainda não se tinha apps de previsão do tempo no celular, não existia o tal do WhatsApp, enfim, uma época não tão longe da que estamos, mas ainda não tínhamos essas  facilidades de hoje. Lembro de iniciarmos a caminhada na fazenda de Bairro Alto lá pela 1:30h da manhã de sábado. Chegamos ao início da via ainda no escuro, quando o sol começava a raiar no horizonte. Um vento forte soprava e divergia daquele céu azul de brigadeiro que começava a aparecer e parecia tão calmo. Eu já conhecia um bom trecho da via, digamos que uns 70% da rota. Escalamos em um ritmo bom. Eu estava “puxando” todos os esticões. Na época eu estava muito confiante, com um bom psicológico. Estava escalando direto no Marumbi e treinando “religiosamente” na Campo Base. Chegamos ao ponto da minha última escalada, 2 anos atrás, no ano de 2008, que havia chego com meu irmão. Exceto na investida do ano de 1996 (naquela época eu nem possuía) eu sempre usava capacete nessas escaladas. Desta vez reduzi o peso ao máximo. Pensava assim: “Nesta via você não pode cair, se cair vai dar merda, então o capacete não vai fazer diferença!”. Não levei capacete. Menos peso! Daquele ponto que eu e meu irmão havíamos desistido há 2 anos eu continuei tocando por onde seria mais óbvio, um pouco tendendo a direita e sempre subindo. Escalei bastante em trechos mistos de rocha e caratuvas, sem nenhuma proteção, pois não havia possibilidades, até chegar a um platô no qual subi sofrendo com o arrasto da corda. Nisso o Rodox grita: “Corda acabando”. Então já tinha esticado quase 60 metros. Uma escalada suicida? Não tinha uma mísera fenda para eu fazer uma parada móvel com as peças de Camalots que eu tinha. Olhei para a esquerda e vi um grampo. Fiquei feliz. Mas o grampo ainda estava uns 5 metros para a esquerda. Tentei chegar nele e por sorte consegui somente passar uma costura com o braço esticado e prender minha auto-segurança nela. A corda estava esticada no seu limite. 60 metros mais que esticados. Eu havia feito uma diagonal para a direita e subido reto. A linha correta após a parada que ele estava abaixo de mim era pela esquerda dele, mas o croqui indicava meio que reto. Neste ano eu já tinha uma cópia do croqui original da via. Desta parada que eu havia chego somente então visualizei a linha correta daquele esticão, uma chapeleta mais abaixo de mim, e toda a linha dele. Eu tinha pulado uma parada, que seria a P11 do croqui original. Eu já estava na P12, vindo direto da P10. O Rodox escalou este esticão e chegou na P12. Ali tiramos algumas fotos em um platô muito fotogênico. O céu estava totalmente azul. Um pouco de vento, que tinha diminuído, em comparação com a ventania que pegamos no início da escalada nesse dia. O próximo esticão pelo croqui marcava 40 metros. Eu iniciei ele e mais acima costurei em um sólido bico de pedra, quase no meio desse esticão. Estava com minha mochila (na verdade cada um com a sua), a qual tinha dentro meu tênis de caminhada, anoraque, lanterna, água, a chave da minha Parati, minha carteira com documentos, R$ 70,00 e mais algumas coisinhas, como um sanduiche de queijo com presunto e mais algumas guloseimas, mas eu não usava o capacete. Redução de peso! Pedi para o Rodox me avisar quando a corda chegasse a mais ou menos 40 metros, logo após o meio da corda (30 metros) passar por ele, o que ele fez momentos depois. Neste ponto eu não encontrava a parada. Havia visto uma boa fenda que caberia algumas peças móveis. Mas eu estava bem. Forte fisicamente e psicologicamente. Para que costurar? Era um trecho fácil. A costura (única) deste esticão era um bico de pedra, um bico “bomba”, talvez uns 15 ou 20 metros abaixo de mim. Tentei continuar por um trecho de mato, mas achei estranho e não óbvio, apesar de ser a linha mais reta, mas não estava com cara de escalada. Voltei e fui pela direita. Achei estranho também, então desescalei até aquele local da fenda abaixo (que eu não coloquei proteção). Saí para a esquerda e fui subindo. Cheguei embaixo de uns blocos bem verticais e alguns negativos. Não era por ali, certeza! Comecei a retornar. Nessa desescalada virei um pouco de lado com o corpo em uma canaleta com capim – lembro que em uma certa ida nossa ao Morro do Anhangava, no início dos anos 90, piá atentado que eu era, eu descia a escadinha do Anhangava (naquele época chamada de “cabo de aço”, pois tinha um cabo de aço lá, os degraus atuais não existiam na quantidade de hoje) e era um 1º de maio, a escadinha congestionada, e eu desci aquele trecho de frente, por fora dos “turistas”, paralelo a linha do cabo de aço, ou seja, com a bunda na rocha e deslizando (piá do djanho) e um bombeiro que estava lá me chamou a atenção, dizendo: “Ôoooo pía! Desça de frente, nunca de costas para a pedra!”. Deveria ter sempre obedecido essa regra… (voltando a continuação da escalada…) – Nessa desescalada virei um pouco de lado com o corpo em uma canaleta com capim, meio que de costas para a parede, pisei num tufo de mato e escorreguei (a sola da sapatilha sobre mato, folhas, ou similar, escorrega muito fácil). Comecei a quicar na parede, fui rolando, batendo e a velocidade foi aumentando. Lembro do vento zumbindo em meu ouvido. E eu não parava de cair. A única coisa que lembro era pedindo para Deus fazer com que eu parasse. Mas eu não parava de cair. Naquelas frações de segundos eu já achava que a corda tinha estourado, ou os nós da corda dupla tinham desfeito, algo estranho estava acontecendo. Várias coisas passaram na minha cabeça nesses poucos instantes. Mas não parava de cair. Sentia o corpo batendo, eu girando, batendo de novo, até um momento que a aceleração da queda ficou maior, muito maior, e eu sentia um vento absurdo (ele passando por mim ou eu passando por ele?), até que eu senti a corda esticando. Depois disso não lembro de mais nada por algum  tempo.

Quando me dei por si, estava pendurado de ponta cabeça, em uma parte quase vertical. A minha sorte foi de que no inicio da queda a parede era positiva, no trecho onde fui rolando e quicando, e depois a parede ficou mais vertical, onde eu devo ter caído no vazio, afastado da parede, até a corda esticar. Outra sorte foi não ter batido em nenhum bloco ou platô. Mais sorte que juízo foi não ter batido essa “cabeça dura”. Eu estava sem capacete! Redução de peso, lembram? Quando estava pendurado de ponta cabeça, gritei para o Rodox, e ele respondeu mais para cima de mim, e mais a direita. Eu não o via, pois tinha caído por uma outra face da parede, mais para a esquerda dele, depois de uma aresta que essa parede fazia. Ele também não me viu caindo. Só viu um vulto passando do outro lado momentos antes de ele sentir a corda esticar. Eu me puxei e consegui chegar até ele. Não sei quem estava mais apavorado. Se ele, de me ver 40 metros abaixo de onde eu estava instantes antes, voltando se me puxando pela corda todo cheio de raspados e ralados, com sangue em algumas partes do corpo, e sem mochila. Só me liguei que tinha perdido a mochila na queda quando ele falou: “Caraca, cadê sua mochila?”. Eu estava escalando sem a barrigueira presa… Ou eu que estava mais apavorado, pois tinha levado uma vaca daquela, onde minha vida quase tinha ido por um triz! Eu não estava com dor. A adrenalina era maior. Mas eu somente queria sair daquela situação. Sabia que não dava pra rapelar. Seriam horas de rapel, como da ultima vez com meu irmão, em 2008. Por sorte meu jogo de Camalots estava intacto no rack da cadeirinha (se o rack tivesse estourado não sei o que seria). Lembrei daquela fenda mais acima (aquela que eu não costurei, pois estava tranquilo por lá!) e falei pro Rodox: “Cara, eu vou subir, fazer uma parada móvel e de lá damos um jeito de sair por cima”. A minha queda foi de “somente” 40 metros, por aí, pois o bico de pedra que havia costurado aguentou (a fita que lacei ele até rasgou parcialmente, fiquei com ela por anos na minha cadeirinha para usar de abandono, o que fiz anos depois em outra via por aí). Reiniciei a escalada e logo passei pelo citado bico, vi a fita e “agradeci” a ela, e logo cheguei a tal fenda mais acima. Estava muito adrenado. Pensei: “Porque eu não costurei nela quando tinha chego a primeira vez?” Não teria levado aquela queda. Mas estava escrito. Era para ser assim. Montei uma parada móvel e o Rodox veio. Desse ponto para cima era o último esticão. Estávamos quase lá. Quase no cume! Não encontramos a parada (P13 do croqui original). Eu tinha aquele outro croqui elaborado pelo Capachão na década de 90, no qual estava escrito que o ultimo grampo da via (a última parada) era um “Grampo para fora, em cima de um bloco de pedra parecido com um sofá”. Mais ou menos assim estava escrito. Continuei escalando por um sistema de canaletas esticando quase 50 metros, e finalmente encontrei uma pedra, e em cima dela um grampo grande, saindo para fora, como se este bloco de pedra fosse um sofá. Foi um alívio imenso! Era cume! Gritei para o Rodox e ele subiu. Chegávamos às 16hs do dia 19 de junho de 2010, um dia que ficou marcado para mim. Eu comparo essa minha fatalidade com a lenda das 7 vidas dos gatos (gato = animal). Já ou viu falar? De que os gatos tem 7 vidas? Atravessam as ruas na frente dos carros e não são atropelados, caem de alturas absurdas e caem em pé, assim por diante! Depois desta fatalidade, eu acredito que nós “humanos” temos 2 vidas (ou melhor, 2 chances). E no dia 19 de junho de 2010 uma delas, das minhas 2 vidas, se foi!

Eu tinha perdido minha mochila, lá estava minha água, comida, tênis, lanterna, celular, etc. Dica: se alguém algum dia encontrá-la, tem um saboroso sanduíche de queijo com presunto dentro dela! A chave de uma Parati, R$ 70,00 na carteira… só quero a devolução dos 70 pila, o sanduíche pode comer! Logo após chegar ao cume o corpo começou a esfriar. Comecei a sentir as dores no corpo. Para quem conhece a região sabe que ainda tínhamos um longo retorno. Uma caminhada desde o cume em que estávamos, o cume do Ibitirati, até o Pico Paraná (PP), a maior montanha do sul do Brasil, e desse cume outra longa caminhada até as fazendas que dão inicio a trilha dele, no município de Campina Grande do Sul (já no planalto Paranaense), lembrando que nosso carro tinha ficado na região do litoral do estado, mas iríamos resgatá-lo no dia seguinte com outro carro, como já era a programação. Todo o equipamento tinha sido colocado, parte dentro e o que não coube, prendido por fora da mochila do Rodox, pois era uma mochila mediana, para equipamentos e demais objetos para somente uma pessoa. Conseguimos chegar ao cume do PP ainda com luz do dia. Consegui ligar para o meu pai com o celular do Rodox, com quem já havíamos previamente combinado que nos pegaria nas fazendas naquele sábado à noite, caso ligássemos do cume do PP avisando o horário do resgate. Combinamos o horário com ele para às 22:30h na fazenda. Tínhamos somente uma lanterna e logo no início da descida do PP já escureceu. Conseguimos descer até o Abrigo 2 (A2) com somente uma lanterna. Estávamos sem comida e sem água, já que o que sobrou do Rodox tínhamos consumido no cume do PP. Ainda faltavam algumas horas de caminhada. No A2 paramos em uma barraca, onde tinha um casal para fora, e começamos a conversar com eles e contamos o ocorrido. Eles foram muito legais. Nos deram um pouco de água e um pacote de bolacha. E o cara ainda me emprestou uma lanterna Rayovac de mão, a qual durou a pilha até a bica do Caratuva – o que ajudou muito. Combinei com ele que deixaria a lanterna sobre o para-brisa do carro dele na fazenda, o que eu fiz quando chegamos lá. Chegamos por volta das 23h na fazenda. Eu já não conseguia mais andar direito. Estava com a sapatilha de escalada descendo a trilha do PP por quase 5hs. Sorte (ou menos mal) que era uma sapatilha de cadarço, uma 5.10 Coyote, então consegui tirar o calcanhar, pisar por cima dele, e laçar o cadarço por trás do tornozelo, prendendo melhor ela no pé, e assim desci a trilha como se a sapatilha fosse uma sandália.

No dia seguinte ainda tive que ir para Antonina com meu pai, com o carro dele, e com a chave reserva da Parati para resgatá-la na fazenda em Bairro Alto. De lá eu retornei com ela e meu pai com o carro dele novamente ate Curitiba. Eu mal conseguia pisar na embreagem e no acelerador para dirigir.

Fiquei por meses com problema nos ligamentos e tendões das pernas e dos pés, tanto pelas batidas na queda quanto pelo esforço no retorno da caminhada descendo com a sapatilha. Não tive fraturas na queda. Somente muitos arranhões e hematomas. E um dedo da mão que havia virado e lesionado vários ligamentos da mão e dedo. Foram meses de recuperação. Mas eu estava sem capacete! Poderia ter sido muito pior. O pior ainda seria se tivesse dado merda, certamente seria um dos maiores resgates da história de nossa Serra! No dia seguinte da escalada, no domingo, entrou uma frente de chuva com garoa e névoa, que permaneceu por dias. Teria que ser um resgate pelo solo e naquele local longínquo, no meio da maior parede de rocha do sul do Brasil, não seria nada fácil.

Por mim eu nunca mais voltaria a escalar depois desse fato. Já tinha definido isso. Planejava vender os equipos. Foi um grande trauma. Tinha visto minha vida “escorrer” por dentre os dedos da minha mão. Tinha desistido da escalada!

Mas a paixão era grande. A saudade bateu e voltei a escalar acho que em menos de 1 ano depois do ocorrido, um pouco receoso ainda, mas com uma certeza. Muito mais cauteloso e sempre pensando em todas as possibilidades que podem ocorrer ao nosso redor. Sempre levando mais do que precisa, seja equipamento, água, comida, e claro, o Capacete, sempre!

O capacete é um artigo que deve ser usado em vários esportes. Dentro da escalada, principalmente na esportiva, deveria também ser usado amplamente. Já vi tanto “quase” na escalada esportiva que é por sorte que ninguém se machuca na cabeça (na verdade há acidentes por aí, mas as vezes não tomamos conhecimento). São quedas girando e a cabeça passando por um triz de alguma pedra, falta de atenção do seg, e vários outros motivos podem levar a um acidente mais sério. E a nossa cabeça é muito frágil. Qualquer batida pode te deixar com sequelas ou ser pior. Mas na esportiva ficaria feio escalar com capacete! Eu uso. Sugiro até usar na tal da modinha dos “patinetes amarelos” pelos centros urbanos por aí. Mas cada cabeça uma sentença!

Quase dez anos se passaram.

Ano de 2019.

Mas antes disso eu já queria repetir ela. Em 2017 e 2018 estava “pilhado” em ir, mas não consegui uma oportunidade. Não era pra ser. Estava escrito!

O projeto de regrampeação da via, já citado no inicio deste texto, concluído em junho deste ano foi o estopim. Na quinta-feira do feriado de Corpus Christi, menos de uma semana após a regrampeação da via pelo CPM, realizada no sábado anterior, eu tinha uma folga e voltei para repetir a via com meu amigo Josman De Marchi, autor do guia de Escaladas do Morro do Canal – Piraquara/PR (ou melhor, tentar repetir!). A previsão para aquela quinta era ótima, em qualquer lugar do nosso Estado, exceto no próprio Pico Paraná e região, pois havia uma previsão de “névoa”, mais ou menos 0,1mm de chuva, em um intervalo de 1 hora, a partir das 13hs, o que era muito pouco. Tomara que a previsão estivesse errada! Eu pensei! Mesmo assim resolvemos ir. Na sexta, sábado e domingo do feriado a previsão era sol, mas nossas agendas não coincidiam. Eu tentei dormir das 19 às 22hs naquela quarta-feira, mas sou ruim de sono. Só fiquei rolando, pra lá e pra cá, e às 21:30hs levantei da cama, desistindo do cochilo. Saímos antes da meia noite de quarta-feira de casa. Desta vez estávamos poderosos. Tínhamos um 4×4 e a estrada até a ponte do Rio Cotia estava limpa (com ele economizaríamos 1h30 de caminhada subindo), pois no fim de semana anterior a turma do CPM tinha feito o trabalho difícil. Retiraram diversas árvores caídas nesta estradinha que impediam a passagem de veículos. Mas a estrada continua péssima, mato que parecia mais uma trilha para passar somente 1 pessoa, raspando nas laterais do carro, e no meio do trilho da estradinha havia um mato que dava quase na altura do painel do carro, o qual batia no para-choque dianteiro e passava raspando por baixo do carro. Muitas pedras pontudas e altas, buracos e lama. Realmente somente com um 4×4 com reduzida. Um simples 4×4 sofreria muito, talvez nem suba.

Iniciamos a caminhada cedo, antes das 2 da manhã, da ponte do Rio Cotia. Caminhamos rápido. Antes das 4 da manhã chegamos a base da via. O céu estava 100% estrelado. Sem vento. Não quisemos começar a escalar aquele horário. Ficamos cochilando até as 5hs. Nenhum sinal de amanhecer. Somente algumas nuvens adentravam vale abaixo. Começamos a escalar 5:50hs da manhã, ainda no escuro. Josman “puxou” a primeira e fomos revezando a guiada. Ainda tinha pó de pedra dos furos da regrampeação do fim de semana anterior, pois não tinha chovido naquele intervalo. Logo começou a clarear no horizonte e aquelas nuvens estavam subindo mais e mais, mas ainda abaixo de nós. Quando chegamos ao Platô Jean Claude as nuvens já tinham alcançado a nossa altura. Continuamos a escalada após um lanche, e quando estávamos na P6 do croqui original (para nós P7) as caratuvas já estavam úmidas. Eu tinha uma impressão em papel do croqui original da via rabiscado naquela semana pelo pessoal da regrampeação, e no próximo esticão, o da “canaleta de bambu”, que não tinha proteção nenhuma intermediária anteriormente (e que no croqui diz que são 20m, mas são 48), tinham 3 chapas novas marcadas a caneta no croqui, mas marcadas visualmente bem a direita da linha da via, como se fizessem um desvio da linha original mais a direita. Neste ponto em que estávamos a névoa não permitia ver mais que 20 metros acima. Olhei mais para a direita e vi uma linha de rocha, pois para a esquerda era só mato, mas nas 2 vezes anteriores que eu tinha passado ali lembrava de ter ido pela esquerda, mas quis acreditar pelo croqui que tinham feito uma nova linha pela direita, pela rocha, fugindo do mato. Era a vez do Josman guiar este esticão. Ele iniciou e seguiu minha dica, foi para a direita até aquele trecho de rocha limpa para procurar as novas chapas e nada achou. Voltou para minha linha, acima de mim, mas já a uns 15 metros, e tocou reto subindo pelas caratuvas. Nesse momento já estava tudo muito úmido. E continuou subindo até que eu falei para ele voltar. Eu estava apreensivo com o aumento da umidade. Mas ele disse que não dava mais para voltar, se tentasse desescalar o mato iria cair com ele, era tudo muito frágil e já estava molhado. Minutos longos depois eu ouvi um grito: “Parada!”. Tive um alivio, mas pensei comigo: “Muito estranho”. Naquele momento eu já sabia da roubada, a parada original era mais a esquerda dele. Pensei comigo: “Como teria uma parada lá?” Como eu estava de segundo, com a corda de cima, comecei a escalar e já fui para a esquerda, por um trecho de mato frágil, e a uns 12 a 15 metros acima achei a primeira chapa nova, e daí achei a linha das demais chapeletas novas, seguindo mais pela esquerda, mas escalei em direção a parada em que ele estava, mais a direita. Era uma parada dupla com grampos antigos, e de lá visualizei o platô do Biriba mais a esquerda e mais para cima, a uns 8 metros dali. Esta parada não existe em nenhum croqui! Eu tentei continuar escalando em transversal para chegar ao Platô da linha correta da via, mas já estava tudo molhado, a corda já estava escorrendo. Estava ficando perigoso continuar. Era perto do meio dia e não tínhamos opção que não fosse rapelar tudo. Infelizmente mais uma vez não conseguir escalá-la! Agora para mim seria uma repetição, e para Josman a primeira vez. Chegamos ao carro pouco depois de escurecer e voltamos para Curitiba. Mais um insucesso, mas desta vez, sem acidentes ou incidentes, somente a natureza que nos venceu!

Com a tentativa de repetição engasgada na minha garganta desde 2010 e a existência de uma brecha no clima para o dia 13 de julho, sábado, quase 1 mês após minha ultima tentativa, era a oportunidade de “tentar” repeti-la. O Josman não podia. Eu sabia que o Leandro Cechinel estava pensando em ir para lá com a Natalia naquele fim de semana. Acabou que ela não conseguiu folga e aí eu combinei com o Cechinel de irmos nós 2. De última hora convidei um amigo de décadas, o Anderson Bulgacov, vulgo “Camarão”. Ele tinha ido algumas vezes para lá, mas nunca terminado a via. Eu achei que seria uma boa ir em 3 escaladores, pois dividiríamos mais os custos, o peso dos equipos, mais pessoas para uma possível emergência/roubada e também seria mais divertido.

Dia 13 de julho de 2019 era dia internacional do Rock ´n Roll. Um dia sugestivo para “dar” Rock.

Saí de casa pouco antes da meia noite de sexta-feira, peguei o Cechinel em Pinhais e fomos até Quatro Barras onde nos encontramos com o Camarão. Descemos a estrada da Graciosa, deixamos o 4×4 na ponte do Rio Cotia e começamos a caminhar às 2:35hs da manhã. Por nosso espanto (ou melhor, sorte) a estrada estava toda roçada (no dia seguinte conversamos como caseiro da fazenda e ele disse que a Copel havia limpado naquela semana). Novamente chegamos cedo à base da via, às 4hs da manhã. Estava mais frio que na última vez, no mês anterior. Ficamos ali conversando um pouco e comendo, e logo cochilamos por uma meia hora. Um pouco depois das 5hs começamos a nos equipar, iniciando a escalada as 5:55hs, desta vez sem vento também e sem nenhum sinal de nuvem. Tudo convergia para o sucesso. Mas tinha muita “água” pra rolar. Era muita parede acima, e mato!

Nesta escalada eu tinha 2 objetivos, além, de é claro, repetir a via. Um era de identificar as novas proteções, a posição e quantidade delas conforme a minuta do croqui realizada após a regrampeação, tanto para auxiliar o CPM na atualização do croqui original, como para atualizar o meu croqui que eu confeccionei lá pelo ano de 2011/2012, bem detalhado, após a primeira vez que a escalei. O outro objetivo era fazer uma medição de cada esticão, que faríamos a partir da marcação de meio da corda ou de seu final, o mais próximo, e marcando braçadas desde o meu ombro até a ponta da mão oposta, que no meu caso mede 1 metro exatamente. E também, é claro, tirar fotos, fazer vídeos e curtir a escalada.

Raiar do sol, antes de iniciar a escalada.

A escalada fluiu bem. O segundo e terceiro escalador da cordada sempre escalavam em sistema de “A”. Rapidamente estávamos no Platô Jean Claude onde fizemos um lanche. Após esse ponto a brincadeira começa a complicar, como sempre. O segundo esticão após o Jean Claude, o que cruza o lagartão, tinha uma chapa nova a direita da sua parada, quase na mesma altura dela, para onde fui, guiando, mesmo sabendo que a linha original era reto, onde mais acima, uns 10 metros havia um grampo antigo, não trocado e nem retirado na regrampeação (que vi no mês anterior quando tentei repetir a via com o Josman). Fui pela direita e após essa chapa nova havia um trecho vertical com mato e bambu, horrível de subir, e mais acima acabei voltando um pouco à esquerda para a linha antiga, pois para a direita não tinha rastros e nem uma linha possível pelo mato, até chegar aonde tinha uma fenda para por uma peça e uma árvore boa um pouco acima, na qual deve-se subir para “ganhar” um Platô e depois fazer a passada para o Lagartão, por seu diedro. Na virada do Lagartão foi colocada uma chapa nova, que não existia anteriormente, o que melhorou tanto no psicológico quanto na orientação desse trecho. Após essa virada tem mais 2 chapas novas para cima, mas a corda já tinha jeito um “S” por conta do zig-zag e enrosco nos matos, era quase impossível puxá-la. Era um esticão de 50 metros com muito arrasto. Com dificuldade cheguei a parada. O próximo esticão o Cechinel guiou, outro também com muito arrasto, este com 55 metros e não 50 como no croqui original. Havíamos chego a parada que eu e o Josman chegamos no mês anterior e erramos a linha do próximo esticão. Era a P6 do croqui original, ou P7 para nós. Como eu já sabia que esse esticão era realmente para a esquerda, eu guiei e cheguei “tranquilamente” ao Platô do Biriba, apesar de ser para mim um dos esticões mais técnicos da via, principalmente no trecho final da “canaleta de bambu”, em um trecho meio em diedro pela rocha. Este esticão agora tem 4 chapeletas Pingo novas da Bonier, e não 3 como no croqui atualizado após a regrampeação que tínhamos no momento, e ainda usei um C2 bomba em uma fenda. No croqui original este esticão consta como 20 metros, mas tem 48. O próximo esticão, um dos mais belos da via, segue por um veio de cristal. É aquele esticão que tinha uma passada complicada e exposta somente em um pitón. Mas agora ele ficou muito bem protegido. A P8 do croqui original (P9 para nós) era uma parada que eu nunca tinha encontrado nas 2 vezes que passei naquele trecho, eu sempre fazia uma parada em 2 árvorezinhas boas mais a direita, mas agora achamos o local correto dessa parada. A parada está acima de um tetinho, na mesma linha da parada debaixo, mas o esticão faz um “S”. No próximo esticão, que segue por uma canaleta de caratuvas, a parada nova estava mais acima do que na marcação do croqui atualizado, após os bicos de pedra, e não antes. Um pouco mais acima antigamente tinha a P9 pelo croqui original. Mas por terem batido essa P9 mais pra cima na regrampeação, acredito que a P10 do croqui original foi inutilizada, pois ficaria um esticão curto entre uma e outra, e da P9 foi feito um esticão direto até a P11 do croqui original, ficando 2 esticões longos de 52 e 55 metros respectivamente. A partir da P11 a numeração acabou ficando igual a nossa, pois como se eliminou um esticão – da P9 a P10 – a falha no croqui da 4ª parada (“P4” que deveria ser “R”) anulou a diferença da sequencia numérica a partir da P11. A P11 eu também nunca tinha achado, foi a que eu e meu irmão em 2008 não achamos e desistimos de lá, e em 2010, quando eu completei a via pela primeira vez passei pela direita e encontrei a linha da via 2 paradas acima, esticando na tampa 60 metros da corda à época. No próximo esticão, o 12º, que no croqui original não dá uma boa direção dele, após a P11 tem uma Pingo já no início para evitar uma queda de “Fator 2”, e também ficou bom para direcionar a linha da via, e logo acima toca reto por um mato, onde teria o tal pitón, que não encontramos. Após isso chega-se a um platô, na direção acima da P11, e de lá faz-se uma travessia diagonal para a direita bem longa por um platô até uma linha de rocha vertical com várias agarras e bicos de pedra, onde visualiza-se uma Pingo bem alta. Alguns dias depois conversei com o Ed e ele confirmou que o pitón estava lá, mas eles o viram somente no rapel no dia da regrampeação. Quando eu cheguei a P12 eu vi por onde eu tinha chego nela em 2010, por um platô mais a direita. Nos reunimos nesta parada e fizemos a foto clássica, a mesma que eu fiz momentos antes de ter tido aquela enorme queda em 2010, e ter parado para baixo desta parada em que estávamos.

Eu no início do 13º esticão, onde caí em 2010.

Eu fiz questão de guiar o próximo esticão, justamente o que caí em 2010. Iniciei ele apreensivo, costurei em 2 bicos de pedra, 1 deles o exato que me segurou em 2010. Continuei e cheguei naquela fenda que em 2010 eu não costurei, e podia ter reduzido e muito minha queda. Mas neste dia é claro que eu coloquei um C2 bomba ali e continuei reto, por uma canaleta de Caratuvas. Deste ponto já visualizada a nova parada mais acima, batida na regrampeação pelo trio Ed, Val e Wiliam, que ficou bem visível debaixo. Para mim foi uma guiada difícil ou estranha, não sei ao certo… Conversando também com o Ed alguns dias antes sobre essa parada e ele me contou que a parada antiga estava escondia por ali, bem baixa e atrás dos matos. E realmente estava lá. Muito bem escondida, difícil de achar, e ao lado dela ainda existe um pitón branco com 2 elos de corrente brancos, da época da conquista. Ainda tinha o último esticão, o qual eu também quis guiar. No inicio dele o trio citado bateu uma Pingo para reduzir o fator 2 de uma possível queda, o que facilitou também o direcionamento da via. Mas eu ainda me sentia estranho. Uma sensação diferente, inexplicável. Um misto de preocupação, alegria, tensão, euforia, medo! Este último esticão deu uns 35 metros, no qual eu acabei esquecendo as peças móveis com a minha dupla na parada abaixo, mas que seriam úteis por ali, o que me deixou mais apreensivo nessa guiada. Não era algo difícil, era fácil, mas eu continuava me sentindo estranho! Finalmente cheguei ao grampo quase sacando em cima do bloco tipo um sofá, aquele grampo citado no croqui do Capachão, o último da via. Ainda bem que o trio citado não o retirou na regrampeação, acho que ele faz parte da montanha, parte desta via. Uns 2 metros acima, em um Platô mais seguro, estava a nova parada dupla com chapas Duplas da Bonier (na maioria das paradas duplas fixadas no projeto de regrampeação foram colocadas fitas refletivas, para auxiliar um possível rapel noturno, o que é fácil de ocorrer). Chamei o Cechinel e o Camarão para subir, os quais passaram por mim e continuaram por mais uns 4 ou 5 metros acima por uma caneleta de caratuvas, ainda encordoados e na minha seg, para saírem no cume seguros. Após isso eu desmontei a parada, eles recolheram as cordas, e finalmente eu subi até eles.

E não é que deu Rock?

Chegamos ao cume às 16:10hs, gastando 10 horas e 15 minutos de escalada, escalando em 3, tirando muitas fotos, sem correria, mas conhecendo a linha da via.

Foram 621 metros de escalada. Muitos trechos de mato, caratuvas e bambus, mas também muitos trechos de rocha, com lances mais técnicos, delicados para que está guiando, principalmente com uma mochila nas costas e com horas de caminhada e escalada abaixo, e em um ambiente inóspito. Realmente é um 5º grau incomparável.

Foto: Leandro Cechinel

Iniciamos a caminhada a partir do final da via, antes do cume principal do Ibitirati, às 16:45hs, subindo por uns 5 minutos pelas caratuvas até o seu cume principal. Levamos mais uns 15 minutos até o cume do União e mais 10 até o cume do Pico Paraná. Saímos desse cume às 17:40hs, logo após presenciar um pôr-do-sol espetacular. A descida do trecho inicial da trilha do PP foi incrível, presenciamos um lindo crepúsculo e uma lua cheia exatamente sobre o Pico Paraná. Passando pelo Abrigo 2 me espantei com a quantidade de barracas. Havia mais de 50 barracas. Música sertaneja tocando alto! Às 19hs passávamos pelo Abrigo 1 (A1), onde fizemos mais um lanche, e às 20:25hs chegamos a bica do Caratuva. Às 20:45hs passamos pelo Piolho e finalmente às 21:40hs chegamos ao posto do IAP nas fazendas. Total de quase 5 horas para descer (estávamos em um ritmo bem lento).

O nosso colega Ederson Brommelstroet (Eder), atual vice-presidente do CPM, gentilmente foi nos resgatar no posto do IAP nos levando até as respectivas casas, chegando nelas por volta das 23h de sábado.

No dia seguinte, 14 de julho, domingo, após uma curta e não suficiente noite dormida, eu encontrei o Camarão em Quatro Barras e de lá saímos com seu veículo às 10:30hs e fomos até a fazenda em Bairro Alto (Antonina) onde deixamos o seu veículo estacionado. Pagamos ao Sr. Antonio, caseiro, R$ 10,00 de estacionamento e R$ 3,00 cada um de entrada. Levamos 1h25 de caminhada, subindo até a ponte do Rio Cotia, onde pegamos meu carro e na descida paramos em 3 grandes buracos perigosos para se cair com o carro, ambos no lado direito da estradinha (para quem sobe), para sinalizá-los com galhos e sacolas plásticas. Comemos um x-salada numa lanchonete em Bairro Alto e cada um subiu com seu carro. Cheguei a minha casa próximo às 17hs do domingo. Foi um fim de semana intenso!

Assim foram 7 investidas na via, com somente 2 sucessos, e muito aprendizado extraído dos insucessos e sucessos.

De 1996 à 2019, foram 23 anos com histórias vividas nesta parede!

Atualmente a região conta com diversas vias de escalada – com logística e acesso tão complicados quanto, e ainda, bem mais difíceis tecnicamente, como também, bem mais expostas – tanto no Ibitirati (como as vias “Ecoxiitas”, “3 Chapas”, “Toca Toca o Pau na Mula”, “Infarto Neurológico”, “Musgos Eternos nas Mentes Delirantes” e “Variante Ander-Black”), bem como no Pico União (como as vias “A pressa é inimiga da perfeição, pra que corda então”, “Seg de Corpo” e “Mantenha seu medo”) e ainda no Pico Ferraria, outra montanha ímpar de nossa Serra do Mar (com as vias “Deus e o Diabo” e “Musguenta”). Muitas destas com poucas ou nenhuma repetição. Talvez a “Deus e o Diabo” seja a via mais acessível delas, depois da “Mar de Caratuvas”, pois é uma via melhor protegida, em comparação com as demais, apesar de ser tecnicamente bem mais difícil, e também, o seu acesso ser tão complicado e cansativo quanto da “Mar de Caratuvas”.

Finalizando a parte histórica desta clássica via de escalada paranaense e das minhas incursões na região, o Julinho, anteriormente citado nesse texto, o qual tem um histórico muito interessante de toda a conquista dela e sobre muitos outros “causos”, contou-me que a “Mar de Caratuvas” já foi escalada “à francesa” pelo Serginho Tartari e Chiquinho em somente 4hs (acredito eu que seja o recorde dela, com corda), já o falecido Dubois a escalou em sólo (sem corda ou equipamentos de segurança), bem como também a dupla Bito Meyer e Alexandre Portela, sendo que este último teve uma queda na escalada e por sorte caiu em cima de um platô. No dia da citada regrampeação, o trio Ed Padilha, Val e William Lacerda a escalaram em mais ou menos 5 horas, também um tempo dos mais rápidos. Outra informação que recebi do Ed, o qual me relatou, que uma das vezes que ele escalou a via foi em solitário, e em alguns trechos escalou em sólo, isso lá pelo ano 2003, em mais ou menos 4 horas, totalizando a travessia total em 13 horas, desde Bairro Alto até as fazendas do PP.

Em minha opinião, de acordo com o Sistema Brasileiro de Graduação, a Via “Mar de Caratuvas” teria a graduação 5º VI E4 D4/D5 621m.

É uma escalada para aventureiros de paixão. É aquela escalada que no dia que está lá, você jura que nunca mais irá voltar, mas tenha uma certeza. Um ou dois dias após você voltar de lá, você já vai estar com saudades e pensando em uma próxima escalada (ou tentativa!).

“Mar de Caratuvas”, 24 de Julho de 2019.

 

Cechinel iniciando a guiada do primeiro esticão, às 5:55hs da manhã.

Eu, Cechinel e Camarão na P5.

Eu chegando na P11.

Cechinel à esquerda, Camarão (abaixo) e Eu na P11.

Cechinel e Camarão na P12.

Camarão no 12º esticão.

Cechinel e Camarão na P13… penúltima parada.

Pico Paraná com a Lua Cheia.

7 Responses to 621 metros de escalada em rocha e mato!

  1. Eduardo de Assis cabral disse:

    Parabéns pelo conjunto dessa grande aventura.
    E por ter tido culhões para voltar nela após a queda!!

  2. Naoki Arima disse:

    Excelente relato, um resgate da história do montanhismo.

  3. Thiago Benatto Pereira da Silva disse:

    Belo relato Tavinho.
    Obrigado por compartilhar!!

  4. Vincenzo disse:

    Muito bacana o relato. Parabéns pela conquista pessoal e superação!!

  5. Lucia Conrado de Botelho disse:

    Relato muito bom .
    Parabéns pela persistência e foco!

  6. Sarah Cantarino disse:

    Conseguiu transmitir até a vontade de embarcar nessa aventura! Parabéns pela trajetória.

  7. Michell Michalczyszyn disse:

    Ótimo texto, valeu por compartilhar sua experiência!!! Boas escaladas.

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