Por Andrey Romaniuk
Nestes tempos modernos observo estranhas mudanças ocorrendo no meio montanhístico. Há tempos atrás seria no mínimo sem nexo usar o termo separado de montanhista-escalador, pois todos faziam parte da mesma família, mas são cada vez mais raros os exemplares destes “montanhistas-escaladores” encontrados atualmente em nossas serranias. Vejo cada vez mais esta desconexa divisão entre pessoas que praticam somente montanhismo (trilhas) e escaladores (escalada técnica), cada um defendendo o seu lado e criticando o outro. Caminhantes descobrem as montanhas e se fecham para a técnica da escalada, tão trivial para a prática deste estilo de vida. Outras pessoas descobrem a escalada técnica em academias, mas não compartilham o mesmo sentimento de estar em um ambiente natural ou mesmo nas montanhas, e acabam as freqüentando por ser somente lá que estão as rochas.
Analisando esta divisão, muitas vezes percebo que existe algo em comum entre os dois lados: pessoas aficionadas por números. Uns escalam falésias ou pequenos blocos de pedra de número “tal” de dificuldade. Outros caminham numa correria desenfreada até longínquos santuários para dizer que foi o primeiro a fazer tal montanha em “tantas” horas, gerando calorosas discussões. Baseando-se nestes “tais números”, o prazer e respeito de escalar uma montanha se esvaece pela simples auto-afirmação do ego.
Dificilmente descubro novas amizades de pessoas apaixonadas verdadeiramente por “escalar montanhas”. Vejo a escassez de conhecimento de vários freqüentadores da Serra do Mar sobre a história do montanhismo paranaense. Poucos tem conhecimento de nomes como Rudolf Stamm, José Peon, Reinhard Maack, Professor Erwin Groger, Vitamina, Bito, Du Bois, Roberta Nunes, dentre outros, tão pouco quanto sua história e seus feitos dentro e fora de nossas serranias. Conquistas importantes de culminâncias isoladas e vias de escalada que até hoje impõem respeito (e medo) aos mais audazes são ignoradas pela nova geração. Feitos e histórias incríveis, que foram realizados pelo simples prazer de escalar montanhas.
Espero que estas tolas divisões não sejam duradouras, pois quem perde é somente o montanhismo paranaense. O Montanhismo é estruturado por diversas técnicas e modalidades, que isoladas somente empobrecem nosso tão estimado estilo de vida nas alturas.
Bem, permita-me discordar apenas de um ponto: A forte divisão entre as atividades de “escalador” e “montanhista” é fruto, única e exclusivamente, do mesmo poder transformador que motivou, você e eu, a criar um blog sobre montanhismo. Esse papo todo seria mais interessante numa mesa de bar ou equivalente, mas pra não me alongar, comento que esse tal poder é alimentado pela explosão de informação e de todas as possibilidades oriundas. Quando, no tempo de nossos pais, existiria uma academia de escalada na esquina de casa? Quando, no tempo do Maack, alguém poderia fazer a trilha do PP sem ter a mínima noção de selva e escalada? Pois bem, todo o mundo hoje pode, por causa dessa abundância de informação, se dar o luxo de ser mais especialista do que era possível nos tempos de antigamente. Essa chance de se especializar é que criou a divisão. Eu acho. Sei lá, quem sabe eu não tenha me feito entender, mas a gente pode trocar umas idéias depois, pessoalmente. Abraços.
Esse papo todo aí, segundo os estudiosos, tem o nome de efeito Cauda Longa. Se você tiver interesse pelo assunto…